Ficou conhecido como a “Década do Cérebro” o período que foi de 1990 ao ano
2000. Nunca se investiu tanto em pesquisas para decifrar o funcionamento desse
órgão que muitos cientistas acreditam ser capaz de criar todas as percepções, emoções
e pensamentos que vivenciamos em nossa existência humana. O avanço alcançado no
período fez com que alguns estudiosos mais afoitos proclamassem a “comprovação”
da não existência de Deus e muito menos da chamada "realidade espiritual".
Outros passaram a trabalhar com um conceito de espiritualidade
não-espiritualista, partindo do pressuposto que há uma área no cérebro capaz de
criar os fenômenos chamados de devoção, paz interior e outros associados com a
espiritualidade, mas que não passariam de funções biológicas sem relação com
transcendentalismo.
Porém, tais pesquisas científicas
sobre o cérebro não estariam demonstrando apenas o que muitos mestres
espiritualistas orientais e ocidentais sempre afirmaram? Em outras palavras,
que as percepções, as emoções e os pensamentos são "ilusórios" e não
o Real? Para estes mestres, o Real só poderia ser atingido quando se transcende
os atributos do ego (percepções, sensações, emoções, formações mentais etc.)
que seriam criações conscienciais que
dependem do cérebro e dos estímulos que nos chegam do exterior.
Algumas abordagens científicas não-ortodoxas com a de David BOHM (2008)
propõe pensar a relação consciência/realidade, propondo que o Universo é uma
totalidade indivisível e que a parte por nós percebida pertence a "ordem
explícita" que, por sua vez, é um desdobramento de uma "ordem implícita".
Ele não afirma necessariamente que esta última é o plano espiritual, porém, é
possível fazer tais ilações a partir de seus pressupostos.
Assim, e se aceitarmos que vivemos imersos em uma vasta rede de
vibrações e oscilações energéticas e o que vivenciamos e chamamos de realidade
ou de mundo é uma pequena parte dela, criada com o auxílio do cérebro, a partir
das ondas que ele é capaz de transformar em percepções, sensações, formações
mentais e emoções, talvez existam outras
que não são capazes de sensibilizá-lo, mas que fazem parte da "ordem
implícita" a ser ainda descoberta.
Essencialmente, o que identificamos como sendo o mundo material é apenas
um tecido ou campo onde bilhões de partículas/ondas em movimento (elétrons) arrastam turbilhões de ondas
eletromagnéticas das mais variadas frequências, sem se misturarem, como
acontece com as ondas de rádio e de TV captadas por antenas receptoras e
aparelhos específicos capazes de fazer a decodificação dessas vibrações e transformá-las
em imagens ou em sons. Comparando de forma grosseira, os órgãos do sentido e o
cérebro parecem funcionar de maneira similar para que possamos enxergar mesa,
cadeiras, corpos físicos, ruas, árvores, Sol, Lua etc. Porém, nada impede que
não possam existir outras ondas ou vibrações no ambiente que não são capazes de
serem transformados em "realidade" para a maioria das pessoas e, por
isso, dizemos que estão alucinando os que enxergam ou ouvem muito mais do que
os que se consideram "normais". E esta hipótese em nada se assemelha
ao pensamento solipsista que afirma ser a matéria uma projeção mental e que a
matéria só surge quando olhamos para ela.
Do ponto de vista fenomenológico, o mundo é um só, mas apreendido de
forma distinta por cada um. A percepção não é algo meramente biológico, mas
relacionada diretamente com a representação que é construída cultural e
socialmente.
Apesar de estar na moda relacionar física quântica com espiritualidade,
este ramo da ciência, como bem salientou BACHELARD, instaura o materialismo
racional, rompendo com o materialismo empírico. É por isso que a maioria dos
cientistas que atuam nesse campo do conhecimento acredita no acaso e no "indeterminismo
quântico", não aceitando a hipótese de existir uma finalidade providencial
ou divina por trás de todo esse processo de produção da vida.
E é o cientismo, ideologia criticada por Paul FEYERABEND (1977), um dos
motivos que nos faz acreditar cegamente na palavra de um psiquiatra ao afirmar
que tudo aquilo que vai além da percepção “normal” é “alucinação”, considerando
como uma patologia mental todo o potencial perceptível dos videntes e dos
clarividentes, e não darmos nenhuma atenção àquele que fala, tratando-o como
esquizofrênico.
Porém, Se pensarmos que, dentro de uma sala iluminada, somos capazes de
perceber paredes,
poltronas e outras pessoas dentro delas graças aos fótons que após refletirem nesses corpos sensibilizam a retina dos nossos
olhos para, em seguida, serem transformados em pulsos elétricos que serão levados
até o cérebro onde a imagem dessa parede será criada (e não só a imagem, também
a sensação de que a parede é lisa e não rugosa) por que não podemos aceitar que
possam existir outras ondas ou vibrações que não sensibilizam e por isso não são
transformadas em realidade pelo cérebro?
Em outras palavras, se o cérebro da maioria das
pessoas só é capaz de criar essa decodificação do ambiente, por que afirmar que
está “alucinando” a pessoa que, além da parede, diz que vê, encostados nela, um
índio nu, um médico e um hindu com turbante? E
por que será classificado como “delírio” o fato de alguém ouvir o que dizem os seres
citados acima?
Não existe diferença entre o "delírio" da psiquiatria e a
clariaudiência estudada pela parapsicologia, pelo espiritismo ou pelos
ocultistas. Apenas a interpretação é diferente. E por que uma é considerada verdadeira
e a outra não? Se a diferença está apenas na interpretação, FEYERABEND (1977) está
correto ao criticar o cientismo e dizer que a educação não deve ser vinculada à
religião, mas também não deve ser vinculada à ciência. Um verdadeiro cético é aquele que questiona as duas posições e não o
que aceita uma e afirma que a outra é errada. Esse não passa de um
pseudo-cético já que as duas interpretações são metafísicas, tanto a que
considera a consciência um epifenômeno da matéria como a que considera a
consciência independente dela.
No exemplo acima, pela perspectiva da psiquiatria, considerada
cientifica, e por isso mais "verdadeira", seria impossível existir
encostados na parede o índio nu, o médico e o hindu de turbante. Porém, para a
pessoa que diz vê-los e ouvi-los, eles existem. Ou seja, do ponto de vista
fenomenológico, ou da existência perceptiva de quem afirma vê-los, eles são
reais.
E dentro deste contexto podemos formular uma hipótese: a de que o
cérebro, por mais maravilhoso e complexo que seja, talvez não tenha sido programado
para transformar em realidade todas as vibrações visuais, olfativas, sonoras
etc. que existem no Universo, na Biosfera ou em outras dimensões. Pode ser que
apenas parte das ondas que vibrarem dentro de determinados limites serão decodificadas
pelo nosso cérebro. Em outras palavras, o que chamamos de realidade pode ser
apenas uma ponta de um imenso iceberg,
apenas a decodificação de uma parte ínfima das vibrações e energias que existem
ao nosso redor, que derivam ou são desdobramentos de outras, e que o nosso
cérebro ou o da maioria das pessoas consegue transformar em percepções,
sensações, formas materiais etc.
Talvez David BOHM esteja correto e, na totalidade do Universo, para além
da ordem explícita, há uma implícita ainda desconhecida da ciência. E o cérebro
não seria necessariamente um criador de realidades, mas um redutor da Realidade.
Por exemplo, ao nosso lado, nesse momento, pode existir vários seres incorpóreos
e uma infinidade de objetos que não conseguimos ver ou tocar, mas que vibram em
uma outra dimensão. Um médium vidente
poderia, usando seus poderes psíquicos ou mediúnicos, nos descrever vários
fatos que estão acontecendo dentro de um ambiente, mas que escapam da nossa
percepção dita normal, criada pelo ego, a "consciência humanizada da
personalidade".
Os médiuns videntes seriam
pessoas que, por alguma razão ainda desconhecida, conseguiriam transcender a
barreira da “normalidade” e, assim, conseguiriam decodificar outras ondas
energéticas, não necessariamente através do cérebro, de forma que conseguiriam
realmente estabelecer comunicação visual ou auditiva com seres incorpóreos,
decodificando ondas visuais e sonoras que o cérebro da maioria das pessoas não
está programado para fazer.
E como a observação está diretamente relacionada ao "instrumento da
observação" aquilo que é chamado de “delírio” pode ser um fato psíquico natural chamado pelos ocultistas de "clariaudiência".
E muito do que é classificado como “alucinação” pode ser, dentro de um outro
ponto de vista, "clarividência". Tudo dependerá, portanto, da
interpretação ou do "instrumento de observação".
Acredito que há inúmeras evidências para se
acreditar que a vida pode não terminar com a morte física, o que nos levaria a
pressupor que há uma distinção fundamental entre a vida e a existência. Do
ponto de vista da Animagogia, a vida seria a do Espírito que, provavelmente, possui
uma única vida, mesmo que se processe ao longo de várias existências. E a
consciência do Espírito ao se humanizar seria o Self, capaz de "arquivar" as experiências vividas em cada
existência humanizada do Espírito, enquanto
uma "individualidade humanizada".
Esta, por sua vez, a cada nova encarnação, criaria
um novo ego, uma nova consciência humanizada da personalidade. Em outras
palavras, para cada existência, para cada ciclo de nascimento e morte, seria
necessário velar a consciência da individualidade (Self) que vibra em uma outra dimensão (Noosfera) para que possamos acreditar
nos valores e percepções próprias da nova existência, ou seja, que
"somos" homens ou mulheres, brancos ou pretos, brasileiros ou
argentinos, torcedores do Corinthians ou do Palmeiras, entre outras particularidades
que desaparecem quando se atinge estados ampliados de consciência, como são,
por exemplo, os estados espirituais como o samadhi.
O ego, portanto, passaria a ser o responsável
pela criação de uma realidade, mas não do Real. Ele é importante para
vivenciamos as formas materiais em três dimensões e as percepções captadas
sentidos. E não estamos aqui defendendo o ponto de vista solipsista que afirma
que a matéria é uma projeção mental ou que a matéria só passa a existir quando
olhamos para ela ou que, pelo pensamento podemos mudar o passado. Mas o ego
parece agir como se estivéssemos sob um "estado hipnótico" que nos
impede de pensar e agir como Espíritos que possuem atributos inerentes, como a
capacidade de amar, ser feliz ou viver em paz qualquer vicissitude. E quanto
mais identificação com as verdades que o ego nos apresenta, mais sofrimento com
as percepções, emoções e representações mentais que ele cria a partir dos cinco
sentidos.
Ao mesmo tempo, quanto mais o ego se integra ao Self, a consciência da individualidade
ou das percepções interiores, maior a capacidade de resiliência e de paz
interior diante das vicissitudes da vida humanizada e encarnada.
E por que tememos tanto a morte? Por ela marcar a
finitude da vida? Ou será que é por acreditamos nas verdades impostas pelo ego
e não nos lembramos de que somos Espíritos eternos vivenciando mais uma
experiência humanizada? O medo da morte costuma desaparecer quando os atributos
do Espírito são despertados e se vivencia a experiência humanizada com
habilidade espiritual, desabrochando o Homo
spiritualis na vida cotidiana,
defende a Animagogia.
Dentro dessa mesma linha de raciocínio, podemos
nos perguntar: existe diferença significativa entre o que chamamos de estado de
vigília e o que chamamos de sonho? Quando sonhamos, raramente temos consciência
de que estamos dentro de um sonho. Dele
participamos ativamente como se fosse realidade. Por isso, nos sonhos
também sentimos os objetos, enxergamos e conversamos com outras pessoas, muitas
delas desconhecidas ou que nunca vimos
durante o estado de vigília e ainda é possível se praticar o ato sexual ou levar
um choque. As sensações costumam ser tão reais que só ao acordarmos vamos nos
aperceber que estávamos sobre a cama o tempo todo e que tudo não passou de um
sonho.
Assim, quando despertamos, nossa tendência natural
é a de acreditar que voltamos para o “mundo real” e que todas as percepções,
sensações e emoções vivenciadas durante o sonho foram "ilusórias", criadas
por algum mecanismo do cérebro. Porém, não poderia estar acontecendo o mesmo no
que chamamos de “mundo real”? Ou seja, quem sabe um dia iremos acordar do
“mundo real” da mesma forma como acordamos diariamente do mundo dos sonhos, e
vamos perceber que tudo aquilo que acreditávamos ser real não era apenas uma
parte de um mundo muito maior, onde existem outras cidades e reencontramos
parentes e pessoas amigas já falecidas?
Caso isso aconteça, vamos tomar consciência que a
vida não termina com a morte física e que existe um Universo implícito do qual
acreditávamos estar afastados e que as descrições ou as narrativas visionárias
dos médiuns ou dos sensitivos não
eram tão alucinadas assim.
Esse despertar, portanto, seria uma forma de
“ressurreição”. Porém, talvez não seja o melhor para nós nos libertar desse
outro tipo de sonho criado pelo ego somente após o nosso desencarne, ou seja,
quando, em tese, nos tornaríamos um Ser
humanizado incorpóreo. Se fizermos nossa “ressurreição” agora, despertando os
atributos do Espírito, talvez deixemos de sofrer com as vicissitudes, deixemos
de emanar energias que não sejam amorosas para o Universo e para quem pensa
diferente.
A Animagogia postula que antes de encarnar escolhemos
um gênero de existência. Assim, nossa existência não aconteceria por acaso. Ela
teria uma finalidade providencial. E as enfermidades, físicas ou psíquicas, excluindo
as cármicas, aconteceriam como um
sinal de que a nossa existência estaria
em conflito com o propósito anteriormente escolhido. E o despertar dos
atributos do Espírito seria uma forma de parar com a emanação e a captação de
energias e sentimentos que nos deixariam doentes, com câncer, úlcera e tantas
outras enfermidades físicas, emocionais e mentais.
Ao “ressuscitarmos”, ainda no corpo físico, ainda
enquanto um Ser humanizado encarnado, tornaríamo-nos menos ambiciosos e venceríamos
também a tentação de julgar o mundo em que estamos momentaneamente inseridos em
termos de padrões ilusórios: “certo” e “errado”, “bem” e “mal”, “superior” e
“inferior”, entre outras dicotomias que nosso ego é capaz de criar. Em suma,
enquanto acreditarmos nas percepções, emoções ou pensamentos gerados pelo ego com
o auxílio do cérebro, o mais provável é deixarmos escapar a felicidade, o
estado natural do Espírito, e vamos ser seduzidos para sentir alegria ou
tristeza, euforia ou desespero de acordo com as vicissitudes da existência
humanizada encarnada, segundo a Animagogia.
Esse "ressuscitar" é o objetivo do
processo de individuação, da metanoia e da Animagogia. E talvez seja este o sentido
da existência humanizada e encarnada para o Espírito. Este para "evoluir"
e se "iluminar" talvez precise passar por experiências humanizadas
com a sua consciência verdadeira velada para provar, a si mesmo, que é capaz de
ser feliz sem condicionar sua felicidade na conquista de “riquezas ilusórias”:
bens materiais, bens sentimentais e bens culturais. Talvez seja por isso que o
Espírito precise ser "hipnotizado" ao encarnar para acreditar que é
“pai”, “mãe”, “irmão”, “avô” ou “filho” e sofrer quando alguém por quem sente
apreço desencarna.
O papel do ego parece ser o de fazer o ser humanizado
lamentar a morte e não fazê-lo ter a esperança que o mundo espiritual é Real,
pois teríamos vindo de lá e para lá retornaríamos. Essa “ressurreição” que acontece
quando o ego é integrado ao Self e se
desperta os atributos do Espírito é uma forma de compreender que somos Espíritos
eternos passando por mais uma experiência humanizada. Alcançar essa consciência
ainda preso a um corpo físico torna o fardo da existência muito mais leve e ajuda
a superar a morte, afirma a Animagogia. Talvez essa seja a maior e a mais
importante libertação que se possa alcançar durante a existência histórica,
talvez até mais significativa que a libertação da opressão socioeconômica e da
sociocultural, o que não significa dizer que estas não são também importantes.
Podemos agora voltar àquela pergunta que fiz no
inicio das considerações finais. Será que as pesquisas sobre o cérebro
demonstram realmente que a realidade espiritual não existe ou elas vão ao encontro dos
ensinamentos de mestres cristãos, budistas, hinduístas e taoistas? Estes, por
exemplo, nos ensinam a se libertar de todos os tipos de apegos e de aversões,
pois só podemos manifestar apego ou aversão às formas materiais perceptíveis. E
se todas elas são apenas uma parte da realidade significa que são "ilusórias",
ou parte de uma realidade maior, pois não nos permite perceber tudo o que, de
fato, acontece ao nosso redor.
Em nenhum momento afirmamos que tais pesquisas estão
erradas, apenas as conclusões é que parecem precipitadas. Por exemplo, quando um
psiquiatra constata que o seu paciente está “delirando” quando ouve vozes acusadoras
ou pedem que façam coisas que socialmente não são aconselháveis, por que imediatamente
tratar essas vozes como algo irreal? Por que não considerar que pode haver sim seres
incorpóreos que nutrem o desejo de vingança por aquele que consideram rival,
inimigo ou como alguém que os prejudicou nos negócios ou em outro ramo qualquer
da sua existência humanizada? Por que desprezar os fenômenos que o espiritismo,
a umbanda ou a apometria chamam de “obsessão” e outros ramos espiritualistas de
“assédio extrafísico”?
Um outro fato interessante é aquele classificado
como zoopsia, ou seja, as “alucinações” do alcoólatra que vê animais
peçonhentos como cobras e aranhas por todos os lugares ou envolvendo seu corpo.
E se essa “alucinação” não for tão alucinada assim? E se tais formas existirem
em uma outra dimensão, invisível para nós. Esses mesmos bichos que o alcoólatra
enxerga embriagado, muitos sensitivos com vidência afirmam enxergar sem o uso
de drogas ou qualquer produto alucinógeno. Em trabalhos mediúnicos como a
apometria, os sensitivos costumam relatar a presença de vários seres deformados
ou com formas animalescas ao lado de alcoólatras, sugando suas energias e
outras coisas que nem imaginamos que possa estar acontecendo.
A Animagogia, enquanto um processo educativo
voltado para despertar os atributos do Espírito, afirma que o cérebro é um
redutor da realidade e uma experiência que ajuda muitas pessoas a aceitarem a
existência de outras dimensões a psiquiatria classifica como “alucinações
autoscópicas”: a capacidade que muitos sensitivos possuem de sair do corpo
conscientemente, ou seja, o que o espiritismo chama de "desdobramento"
e outras linhas espiritualistas de "viagem astral".
Essa capacidade do ser humanizado, fundamental
para tomarmos consciência de que a vida material é uma redução da realidade, é
classificada pelos especialistas em cérebro como um outro tipo de “alucinação”.
Porém, se o cérebro físico só é capaz de transformar em realidade parte das
vibrações que estão ao nosso redor, o “cérebro” do desencarnado ou daquele que
consegue "sair do corpo" conscientemente percebe e interage com outras
realidades imperceptíveis para nós. Não discordamos quando um psiquiatra
conclui que todas as percepções, sensações, emoções e pensamentos são
produzidos pelo cérebro, inclusive a noção de tempo e de espaço. Mas podemos ir
além e dizer que o cérebro, pelo menos o da maioria das pessoas, não é capaz de processar todas as vibrações que existem ao nosso redor, daí ser muito pueril
acreditar que somente aquilo que o nosso cérebro consegue transformar em
realidade é Real.
Assim, se o médium,
por alguma razão ainda desconhecida, é capaz de criar outras percepções é de
uma grande superficialidade já rotular tais percepções como alucinação, delírio
ou outra classificação patológica qualquer e não como parte da realidade, pelo
menos daquela pessoa. No depoimento de RG, apresentado acima, que pode ser
acessado na internet e que foi
publicado também no livro Gênero e
Espiritualidade: introdução ao estudo das imagens e do imaginário do invisível,
ele narra que descobriu que era vidente quando foi a um determinado centro e,
vendo tudo o que acontecia na "quarta dimensão" foi surpreendido por
um representante do centro que descreveu o mesmo cenário. Até aquele momento,
ele acreditava que era esquizofrênico e estava alucinando, já que tudo aquilo
que via era coisa da "cabeça dele".
Enfim, com exceção da abordagem transpessoal, as experiências
místicas ou os estados ampliados de consciência ainda são classificados predominantemente
como neurose, regressão a estágios intra-uterinos etc. A Psicologia
Transpessoal é uma das raras abordagens que pressupõe a existência do Ser
espiritual e também que este se aprimora ao longo de várias encarnações. Mesmo
assim, ela ainda não adquiriu cidadania acadêmica. Nem JUNG é estudado na
maioria dos cursos de Psicologia no Brasil.
Em nossa opinião, a fenomenologia mediúnica poderia contribuir e muito para
o avanço da Psicologia Transpessoal no Brasil que, em outros países, concentra
suas pesquisas em outras experiências espiritualistas mais associadas às
culturas orientais. A pessoa que experimenta estados ampliados de consciência
seja através de contatos com seres incorpóreos, abertura para vidas passadas ou
de outros fenômenos anômalos, não encontra as melhores palavras para explicar o
fato para aquele que nunca viveu tais experiências, porém, o importante é que
para absorver a nova informação e a energia que contém tais experiências toda a
personalidade necessita se reestruturar, superando velhos hábitos, velhos
paradigmas, bloqueios psicológicos e religiosos etc. E aqui entra o trabalho central
da Animagogia.
Essa mudança reflete no âmbito da saúde, pois o enfoque deixa de ser a
doença para se centrar no pensamento, nos sentimentos e nas atitudes que estão
por trás das enfermidades e, no educativo, no despertar dos atributos do
Espírito através do auxílio de diferentes técnicas psicossociais, corporais e
meditativas, realizadas, por exemplo, através de projetos de anima-ação cultural.
Com o desabrochar do Homo spiritualis, um novo modo de Ser no mundo técnico-informacional contemporâneo,
uma diferente modalidade de Ser que possui uma mente universalista e livre de
amarras doutrinárias, apesar de sua abertura neg-entrópica para as
contribuições da psicosofia espiritista, budista, umbandista, hinduísta,
taoista, teosófica, católica etc., aceita-se, com naturalidade o fato de que somos
seres espirituais que retornará para o "verdadeiro lar" ao fim de
mais uma jornada sociocultural e educativa destinada ao aprimoramento (aquisição
de experiência e sabedoria) do nosso Ser eterno.
O termo anima-ação cultural é utilizado na ONGCSF para representar toda
e qualquer projeto sociocultural e educativo que tenha como objetivo o despertar
dos atributos do Espírito durante a experiência humanizada, sem preocupação
doutrinária, de forma que seja possível vivenciar com habilidade espiritual
toda e qualquer vicissitude.
O que poderíamos indicar como característica central da anima-ação
cultural é o seu “modo de pensar” residual, ou seja, “impuro”. Ela se formula
na trajetoriedade entre o conhecimento produzido pela ciência contemporânea e
as psicosofias (sabedorias espirituais) das diferentes religiões e filosofias
reencarnacionistas. Porém, seu campo de ação não é o religioso, mas o cultural.
É nesse âmbito que sua função simbólica se concretiza e que possamos contribuir,
modestamente, para a realização do ser humanizado como “neótono neg-entrópico”,
ou seja, como um ser aberto para o mundo, lúdico-explorador, permanentemente
incompleto e inacabado.
A inter(in)venção sócio-educativa e cultural promovida pelo animagogo (o
agente da anima-ação cultural) poderá ser realizada com diferentes grupos
sociais, envolvendo crianças, adolescentes, adultos e idosos (e até
desencarnados, dependendo do caso). Não há dúvidas que se trata aqui de um tipo
peculiar de educador. De certa forma sua ação ocorre no tempo livre do grupo e
não é o ambiente escolar o seu principal locus de atuação, a não ser com
grupos de idosos que frequentam programas de educação não-formal em
instituições como são as Universidades Abertas da Terceira Idade.
O trabalho do animagogo visa o (re)envolvimento humano, em outras
palavras, construir pontes entre a "luz e a sombra" ou entre a "vigília
e o repouso", ou seja, re-ligar os dois polos do imaginário, o
"diurno e o noturno". Talvez
por essa característica transicional, a anima-ação
cultural busca favorecer a amizade e a cooperação. As atividades culturais
relacionadas com "saúde holística", "meio ambiente",
"espiritualidade", entre outras, são as que mais se relacionam com a anima-ação cultural. São
frequentemente as atividades de introversão ou que apresentam forte homologia
com a Alquimia que nos ajuda a reconhecer que é através de nós, mas não a
partir de nós (ou seja, de dentro da personalidade, mas não a partir do ego)
que encontramos muito do que necessitamos, mas que, por não termos consciência
desse fato, procuramos, desesperadamente, do "lado de fora". As
atividades que compõe um projeto de anima-ação
cultural têm como função fazer brilhar dentro de nós, ainda que tenuamente, a
vida e a luz que não emana de nós (em outras palavras, do ego), mas que, no
entanto, está dentro de nós. Em suma, o processo de (re)envolvimento humano
pressupõe trazer um pouco da alma oriental para o ocidente, pois como bem
salientou JUNG:
... o homem ocidental procura sempre a exaltação, e o oriental, a
imersão ou o aprofundamento. Parece que a realidade exterior, com sua
corporeidade e peso, domina o espírito europeu com muito mais força e maior
intensidade do que o faz com o hindu. Por isso o primeiro procura elevar-se
acima do mundo, enquanto o segundo retorna, de preferência, às profundezas da
mãe natureza.... (o homem ocidental parece) que não descansará enquanto não tiver contaminado
o mundo inteiro com sua agitação febril e sua cobiça desenfreada” (1990:107-125).
A anima-ação cultural
tende a valorizar a neg-entropia e, do ponto de vista hermenêutico, a dimensão
simbólica de cada grupo. O processo de criação tende também a promover a
dimensão “fática” da vida humanizada, de forma que o processo educativo não se
prenda tanto ao conteúdo, seja este “crítico”, “civilizador”, “revolucionário”
etc., para valorizar o afetual, o simbólico e a interação social. Assim,
pode-se dizer que a anima-ação
cultural é, sobretudo, uma inter(in)venção cultural, em suma, um programa elaborado
junto com o grupo e não para o grupo.
E nesta modesta pesquisa procuramos realizar uma breve reflexão
e uma tentativa de sistematização da prática da Meditação Integrativa, uma
atividade que é realizada nos vários projetos de anima-ação cultural da ONGCSF
e no contexto da Gerontagogia Holonômica, apresentando, descrevendo e
compreendendo fenomenologicamente alguns processos educativos que a mesma
possibilita, e a prática da Meditação Integrativa com um grupo-sujeito formado
por idosos que afirmam serem médiuns,
ou seja, que dizem ter a capacidade de enxergar, ouvir Espíritos e, em alguns
casos, "incorporar" ou "dar passagem" para que seres
incorpóreos se manifestem através de seus corpos.
Um sintoma comum
apresentado por estas pessoas são as "perturbações psíquicas"
vivenciadas no cotidiano, fruto do contato com as "vibrações
desarmônicas" de pessoas e de lugares frequentados. A prática da Meditação
Integrativa, segundo elas, traz harmonia e equilíbrio. Porém, acreditamos que
mais do que esse resultado imediato de bem-estar, elas favorecem a "mudança
interior", ou seja, a metanoia, a individuação ou o processo animagógico
necessário para o médium vivenciar
esse potencial psíquico de forma sadia, sem afetar o seu cotidiano.
Empiricamente,
os participantes costumam relatar que, ao praticar, sentem que a "tristeza"
diminui ou que ela ajuda a ter mais "energia" e "força de
vontade" para viver ou para enfrentar as dificuldades da vida e, inclusive,
aceitar a morte de um ente querido e a própria morte. Vários alunos já
relataram que após a prática meditativa sonharam com parentes já falecidos e
que, após o sonho, superaram o luto, a tristeza ou, até mesmo, a depressão.
Do ponto de vista das
estruturas antropológicas do imaginário, na linha proposta por Gilbert DURAND,
identificamos na Meditação Integrativa um sistema imaginário complexo e
paradoxal que, com frequência, opõe-se ao pensamento heroico predominante no
modelo biomédico oficial e na educação escolar brasileira, fundamentalmente,
materialistas. A prática da Meditação Integrativa nos remete aos esquemas
verbais, mitemas e elementos simbólicos associados ao imaginário “noturno”,
seja ele do tipo “místico” ou “dramático”, segundo a terminologia própria de
Gilbert DURAND (1997).
E como já salientamos, a
produção simbólica e imaginária que ocorre em uma sessão de Meditação
Integrativa pode ser interpretada como um mero relaxamento mental, sem nenhuma
consequência "mística", mas pode também ser que estejamos, de fato,
diante de fenômenos associados ao mundus
imaginalis e em contato com uma dimensão transcendental, invisível para a
maioria das pessoas, mas que influencia no cotidiano de muitos cidadãos, dando
sentido e até mesmo segurança e equilíbrio físico, mental e emocional,
promovendo a metanoia e, portanto, facilitando o processo de individuação e de
autorrealização daquela pessoa, despertando os atributos do Espírito e
ajudando-a a viver com habilidade espiritual sua vida humanizada.
E entre as pessoas que
afirmam se beneficiar com a técnica está a população idosa que possui
mediunidade. E foi, sobretudo, pelos relatos destas pessoas que convivem com a
prática da Meditação Integrativa, desde 2004, que nasceu o interesse em
realizar essa pesquisa de pós-doutorado que acreditamos possibilitar, de alguma
forma, uma pequena e modesta contribuição para melhor compreender e buscar
soluções para
os "problemas religiosos e espirituais" na educação, como já acontece
de forma incipiente no campo da saúde. Obviamente que o estado laico não deve
se vincular a uma religião, porém, para a consolidação de uma sociedade livre,
ou seja, onde todas as tradições possam ter iguais direitos e igual acesso aos
centros de poder e decisão, se torna cada vez mais necessário se defender do
cientismo, ou seja, a ideologia criticada por FEYERABEND (1977) e que nega e
ataca através de um pseudo-ceticismo, muita vezes de forma violenta, tudo o que
possa ser vinculado com religião, "pseudo-ciência", esoterismo etc.
O ceticismo é uma
atitude saudável e necessária para as pesquisas científicas, mas nota-se no
cientismo muito mais uma manifestação de pseudo-ceticismo, uma atitude violenta
de negar ou criticar como superstição qualquer coisa que transcenda o
racionalismo instrumental ou positivista. E, no caso da educação, seja ela
escolar ou não, sobretudo quando se atua com idosos, quase sempre já
desimpedidos das imposições, responsabilidades e obrigações do mundo do
trabalho, colocar em prática as ideias de FEYERABEND (op. cit.) é permitir
também aos alunos decidir sobre o processo educativo que desejam vivenciar,
elegendo, inclusive, as disciplinas que desejam cursar ou atividades das quais
querem participar ou temas que desejam discutir e como os discutir.
Quando o processo
educativo passa a respeitar e valorizar o cotidiano, a história de vida, os
valores pessoais e a singularidade de cada aluno, sobretudo dos idosos, o tema
espiritualidade costuma aparecer com destaque. Reflexões sobre
transcendentalismo, vida após a morte e outros assuntos espiritualistas
costumam ser do interesse da pessoa idosa. Obviamente que não estamos aqui
defendendo a reintrodução no processo educativo de um ensino voltado para
doutrinação ou para proselitismo religioso, mas compreendendo que a espiritualidade
é um dos assuntos que mais intrigam a humanidade, pois lida diretamente com
questões básicas: Quem somos? De onde
viemos? Para onde vamos? não há motivo para negligenciar essa dimensão da
vida humanizada.
Apesar do preconceito
e estigma que o tema ainda enfrenta no meio acadêmico brasileiro, fortemente
ideologizado, alguns passos já foram dados para que se possa instituir uma
outra forma de pensar ou de criação de um outro paradigma mais humano,
fratriarcal e compreensivo.
Este estudo foi conduzido
tentando aproximar os referenciais da Linha de Pesquisa Práticas Sociais e
Processos Educativos, voltados, sobretudo, para a transformação social através
da práxis histórica, em confluência
com as contribuições fenomenológicas do chamado "círculo de Éranos",
grupo criado em 1933, na Suíça, e que reuniu por décadas diferentes
pesquisadores que se dedicaram ao estudo do tema espiritualidade, como Carl
Gustav JUNG, Gilbert DURAND, Mircea ELIADE, James HILLMAN, Rudolf OTTO e Henry
CORBIN, entre tantos outros.
Também procuramos
enfatizar a importância do referencial quântico de David BOHM, com sua teoria
sobre o holomovimento, e o trabalho realizado pela ONGCSF, de 2003 aos dias
atuais, no qual o pensamento de LÉVINAS e de Paulo FREIRE sustentam o caráter libertário,
de respeito ao Outro e de construção da alteridade presentes em seus projetos
de anima-ação cultural.
A tentativa da ONGCSF de colocar em prática
uma proposta de educação integral dentro da perspectiva da Antropolítica do
(re)envolvimento humano, após séculos de (des)envolvimento, ou seja, de
destruição de vínculos comunitários e de uma relação insustentável com o meio
ambiente, entre outras características de um processo tipicamente prometeico e heroico, não é fácil.
Propor um caminho diferente, não necessariamente de retorno ao passado através
de uma resistência conservadora das tradições (saturniana) ou fazer um culto ao irracionalismo, fugindo da
realidade através das drogas (panfílica),
mas propondo um diálogo entre o mundo não-moderno e o moderno, valorizando uma
relação que poderíamos denominar de hermesiana,
sustentando uma outra ideia-força pautada em trocas, diálogos e
compartilhamentos, valorizando e construindo a alteridade e o respeito integral
ao Outro, sem querer convertê-lo ao Mesmo é a perspectiva do (re)envolvimento
proposto e que possui quatro vetores: o (re)envolvimento
com a natureza, seus ciclos e leis; o (re)envolvimento
com a comunidade, restabelecendo laços afetuais/topofílicos e valorizando a
noção de pertencimento; o (re)envolvimento
com o corpo e suas necessidades básicas, inserindo o parto humanizado, a
alimentação natural e orgânica na vida cotidiana, e, por fim, o (re)envolvimento com a própria alma,
nossa essência espiritual, noética e sagrada.
Para refletir sobre a dimensão
psíquica e noética e entender um pouco mais sobre os mecanismos da mediunidade,
partimos das teorias de KANT (1994 e 2005), que interpretou como patológicas as
"narrativas visionárias de Swedenborg, o "vidente de espíritos",
até chegar à proposta de Gilbert DURAND (1992, 1995 e 1996) de uma
arquetipologia do imaginário, na qual o espírito parece ser fruto de um
imaginário noturno voltado para eufemizar a morte, ideia que, de alguma forma,
é compartilhada por MORIN que, no livro O
método 4 - as ideias, vai afirmar que a mediunidade existe e que o médium realmente dá passagem para
espíritos, mas estes morrem junto com o médium
como se fossem um epifenômeno do cérebro para, finalmente, chegarmos na ideia
de Espírito conforme a cultura popular o define: ou seja, como um ser
incorpóreo, como a alma de um morto, um fantasma que seria capaz de se
comunicar e interagir com os vivos.
Essa concepção é aceita
pela Gerontagogia Holonômica, um programa de anima-ação cultural que visa auxiliar
no processo de individuação da pessoa idosa, trabalhando com o seu imaginário e
sua relação com o sagrado e o transcendental, inserindo assim, a dimensão
simbólica do envelhecimento no processo antropolítico denominado de
(re)envolvimento humano.
Apesar de ainda
predominar a ignorância sobre a importância da dimensão espiritual e religiosa
no processo de envelhecimento, pelo menos no cenário “pós-moderno” em que nos
encontramos, caracterizado por velozes mudanças tecnológicas e por processos de
secularização e profanação da vida, a consciênciada (in)finitude e a busca
espiritual autêntica que vários idosos manifestam não podem ser pensadas como “ópio” ou fuga da realidade para velhos
indefesos. Ao contrário, tais buscas demonstram que a metanoia, ou o processo
de individuação que chamamos também de Animagogia se mostra cada vez mais
importante e necessário na educação de idosos.
E a importância do
referencial trazido pela Linha de Pesquisa Práticas Sociais e Processos Educativos
se mostrou fundamental em nossa perspectiva hermenêutica, uma vez que a
Gerontagogia Holonômica só se processa quando somos acolhidos e temos também a
disposição para ser acolhido e a acolher, aceitando o
paradoxo (ou seja, o oxímoron dos
pré-socráticos) e, por conseguinte, a relatividade de todo conhecimento
científico, religioso etc. mostrando-se tolerante e respeitoso com o Outro.
Esse processo raramente acontece de
uma hora para outra. Um laço afetual, simbólico e de respeito à alteridade
exige tempo para ser construído. A convivência, em uma perspectiva
hermenêutica, constitui-se no cerne do “saber-fazer” acadêmico ou educativo,
pois a experiência vivida nos habilita para compreender a prática social
"de dentro", sem a necessidade de abalar o alicerce mítico ou
simbólico do pesquisador ou do grupo a ser pesquisado.
Assim, para o estudo de
assunto tão instigante e insólito, é necessário pensar em termos de uma ciência
e de uma educação "pós-moderna", no sentido sugerido por LYOTARD
(1993), ou seja, capaz de acolher o pensamento “dilemático" ou “anfibólico”,
em outras palavras, valorizar a ambiguidade que compartilha com o seu oposto
uma qualidade comum ou no sentido "analético" de DUSSEL (1982),
propondo uma relação entre iguais.
Obviamente, se
pautássemos nossa pesquisa apenas em métodos cartesianos o resultado seria
previsível: a Meditação Integrativa apenas estimularia nos médiuns "narrativas visionárias" que não passariam de
alucinação. E talvez seja mesmo, mas é importante também acolher um referencial
teórico mais receptivo. E como escreveu LYOTARD, a perspectiva da
“pós-modernidade” não representa uma condenação às teses da Ciência Moderna,
mas a relativização das suas doutrinas absolutas (metanarrativas). O que ele
classifica como "ciência pós-moderna" é aquela que assume um papel
mais modesto e menos pretensioso, relativizando o saber científico e abrindo-se
para outras formas de aquisição de conhecimento (arte, religião, senso comum
etc.).
Esta forma de se fazer
ciência também se reflete na educação, com o fortalecimento da
interdisciplinaridade e a consequente necessidade de contextualização do meio
sociocultural em que a prática social a ser estudada está inserida. É neste
contexto que podemos compreender o surgimento e o aperfeiçoamento de
referenciais teóricos que permitem uma abertura científica para o estudo dos
processos educativos em práticas sociais, trabalhando de forma complementar com
diferentes autores que contribuem para se criar teorias e métodos para
compreender o sensível e o cotidiano, contribuindo para se consolidar o que
atualmente vem sendo chamado de Pesquisa Qualitativa em Educação.
E se as "narrativas visionárias" de quem participa
de uma prática de Meditação Integrativa são desconcertantes para a nossa
imaginação cartesiana, antes de descartá-las, podemos aceitar, pelo menos no
campo da hipótese, que elas nos colocam em contato com a consciência da (in)finitude,
no qual a morte não passa de uma mudança de dimensão. E compreender tais
fenômenos exige um tipo especial de imaginação, receptivo ao mundus imaginalis das narrativas ali
presentes. Em suma, exige uma abertura e uma flexibilidade mental ainda raras
no mundo contemporâneo, principalmente nos meios acadêmicos.
E se o que os participantes descrevem ou discutem é “real”,
só teremos como saber após a nossa própria morte. No momento, são imagens que
valem pelas flores que cultivam, enriquecendo sobremaneira a imaginação de quem
acessa tais narrativas mitopoiéticas e que compõem o imaginário do invisível
com suas narrativas visionárias.
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