CAPÍTULO 3

A meditação integrativa como atividade de anima-ação cultural e o (re)envolvimento humano

A Meditação Integrativa, como já salientamos, é uma das principais atividades utilizadas nos mais diferentes projetos de anima-ação cultural promovidos pela e na ONGCSF, na cidade de São Carlos. E procuramos apresentar todo o arcabouço teórico e metodológico que fundamenta o trabalho sócio-educativo da ONGCSF para que possamos, a partir de agora, abordar, especificamente, a atividade denominada Meditação Integrativa, compreendendo-a como uma técnica que, em projetos de anima-ação cultural, podem ajudar na valorização do (re)envolvimento humano e facilitar, dentro da perspectiva da Animagogia, no despertar dos atributos do Espírito, facilitando o processo de individuação ou metanoico para que a vida humanizada possa ser vivenciada com habilidade espiritual.
A Meditação Integrativa foi criada entre os anos de 2001 e 2003, e é colocada em prática nos dois programas mantidos pela ONG Círculo de São Francisco, o Homospiritualis e o Essência. O primeiro realiza atividades socioculturais e educativas e, o segundo, um programa de saúde integral através de práticas naturais, complementares, integrativas e populares. No primeiro caso, a Meditação Integrativa é considerada uma atividade para projetos de anima-ação cultural. No segundo, é tratada como uma Terapia Complementar e Integrativa (PIC) que faz parte das técnicas que compõem a Terapia Vibracional Integrativa (TVI), criada e sistematizada na ONG Círculo de São Francisco, e que já capacitou quase 5 mil pessoas, gratuitamente, em todo o território nacional e em Portugal.
Entre os projetos realizados pelo Programa Homospiritualis nos quais a Meditação Integrativa sempre esteve presente, destacam-se "o nascimento da flor de ouro", com atividades voltadas para gestantes e bebês; "cultura de paz e mediunidade", valorizando a diversidade religiosa e o mediunismo afro-brasileiro; e o "rede da esperança", valorizando a questão ambiental, a cidadania e a participação popular. Desde 2013 a Meditação Integrativa vem sendo também difundida em vários eventos do Projeto MAPEPS, da UFSCar, sobretudo, no chamado Espaço de Cuidado.
Enquanto uma atividade em projetos de anima-ação cultural, pretende-se, com a Meditação Integrativa, facilitar o despertar do Homo spiritualis nos ambientes socioculturais (des)envolvidos, chamados, por James HILLMAN (1993), também de (des)almados. Estes ambientes são próprios das diferentes sociedades modernas pautadas por um modelo eurocêntrico e machista de civilização, supostamente universal, e que busca transformar o Outro no Mesmo, propondo um modelo único de percepção e vivência societal. Neles, predominam, conforme apresentamos em nossa tese de doutorado, em 2003, a (des)personalização e a (des)realização devido à correria (des)confortável e insensata, sempre dirigida ao futuro e que, de forma geral, é a responsável em gerar em muitos cidadãos o (des)gosto pela vida, pois esta se torna (des)provida de cor, de temperatura, de sonoridade, de sabor e de cheiro. Em suma, é o (des)envolvimento, enquanto um ideologema da modernidade,  o maior responsável pelo (des)encantamento do mundo.
Obviamente que a Meditação Integrativa sozinha não vai transformar o mundo. Mas ela não foi sistematizada para adaptar o seu praticante a esse mundo de (des)respeito e que se encontra na iminência de sofrer um (des)astre (MARQUES, 2003). Ao contrário, ela preconiza o (re)envolvimento humano e, consequentemente, a organização, a construção e a criação de um novo meio sociocultural e educativo onde o corpo, a alma, a natureza e os laços comunitários novamente sejam revalorizados de forma integral, despertando o Homo spiritualis que transcende o mundo do quantum (matéria) para vivenciar plenamente o qualitum (psiquismo) e as demais energias superiores da vida. Daí a necessidade da "mudança exterior", apontada por quase todos os autores que formam a estrutura teórica da Linha de Pesquisa Práticas Sociais e Processos Educativos, ser complementada pela "mudança interior", a essência dos trabalhos dos autores inseridos no chamado Círculo de Éranos, um dos mais profícuos grupos de estudo sobre espiritualidade que já existiu.
E, apesar de vivermos sob os domínios de uma "civilização da imagem" no aspecto técnico-social, presente na vida de todos, do nascimento à morte (através da TV, do cinema e, atualmente, da internet); de forma oximorônica, ou seja, paradoxal, a cultura Ocidental, particularmente, na modernidade, caracteriza-se por uma luta intensa para fundamentar e instituir filosófica e ideologicamente uma sociedade iconoclasta baseada em uma única verdade, e supostamente universal. Esse movimento que tem início no raciocínio socrático e se estende ao cientismo contemporâneo, foi debatido por vários autores, entre eles, Gilbert DURAND (1999).
Partindo das reflexões de Max WEBER, H. CORBIN e outros, DURAND encontra no monoteísmo judaico-cristão e na lógica binária socrática (O falso e o verdadeiro) a herança ancestral do Ocidente iconoclástico, no qual a imaginação é desvalorizada e associada ao erro e à falsidade.
E a razão, transformada no único meio de acesso à "verdade", levou à exclusão do imaginário dos processos intelectuais e do "método científico" no século XVII com GALILEU e DESCARTES, aprofundando-se no século seguinte com o empirismo factual de HUME e de NEWTON, quando, então, o imaginário passou a ser associado ao delírio, ao sonho e ao irracional. O iluminismo kantiano, no século XVIII, tratou de jogar no lixo toda "experiência mística", "viagem imaginária" ou "devaneios metafísicos" ao estudar a "loucura" em SWEDENBORG, o "vidente de espíritos".
E, no século XIX, o positivismo e o historicismo, filosofias às quais as principais correntes pedagógicas e educativas se encontram atreladas, desvalorizaram por completo o imaginário e, consequentemente, todo e qualquer pensamento simbólico ou baseado em metáforas, expulsando, assim, as divagações dos poetas, a sabedoria popular ou as visões dos místicos, sobretudo, do ambiente escolar.
É óbvio que todo esse processo não foi construído sem resistência no Ocidente. O platonismo, com sua crença em um mundo ideal, o franciscanismo e toda sua ornamentação figurativa e representações teatrais dos "mistérios da fé" e, sobretudo, o romantismo, demarcam alguns dos pontos de resistência do imaginário aos ataques maciços do racionalismo iconoclasta predominante, propondo, sempre que possível, um "reencantamento do mundo".
E no caso da meditação, uma prática espiritualista cuja essência é contemplativa e está fortemente associada às psicosofias orientais, sendo praticada, ao longo dos séculos, a partir de várias perspectivas e métodos com o objetivo de despertar o Self, ou o "lado divino" de cada um, seu valor no Ocidente é recente, e está associado, principalmente, ao movimento "Nova Era" e suas diferentes vertentes, entre elas, o "misticismo quântico", que revaloriza o pensamento solipsista e justifica suas práticas em bases supostamente científicas, tratando a Física Quântica de forma similar ao que aconteceu com a Psicanálise, nas primeira década do século XX, quando esta estava na moda e era associada a quiromancia e outras práticas esotéricas.
A meditação também costuma ser valorizada, sobretudo na mídia, por seu caráter terapêutico, ou seja, como uma possível técnica capaz de combater o estresse e a ansiedade. Esta valorização costuma ser associada à pesquisas realizadas no meio acadêmico, sobretudo, no campo da neurociência, estudando o efeito da meditação sobre a estrutura neurológica do cérebro. Apesar de importantes, estas pesquisas normalmente não se atentam ao processo educativo ou animagógico (educação espiritual) que tais atividades propiciam. Em muitos casos, tais pesquisas se referem à espiritualidade como uma função biológica cerebral e é comum encontrar autores defendendo que não se deve praticar meditações que estejam relacionadas como religiões, sejam elas orientais ou ocidentais. Esse ponto de vista foi muitas vezes exposto e defendido em 3 eventos acadêmicos que participei em setembro de 2016, tanto no simpósio de práticas tradicionais e contemplativas, na UNIFESP; na jornada de Educação e Espiritualidade, organizada na UFSCar, e também na semana da ciência da religião, na UFJF, o que demonstra que a perspectiva de uma espiritualidade não-espiritualista, que nega a transcendência e o valor da religião, cresce assustadoramente, e transformando a "espiritualidade" em uma espécie de remédio que médicos e outros profissionais da saúde prescrevem aos seus pacientes.
Neste caso, porém, a meditação é desvinculada de todo o caráter sagrado ou de valorização do numinoso ou da hierofania para ser reduzida a uma atividade mental que pode ser realizada em empresas, escolas etc. visando, sobretudo, aumentar a produtividade e a eficiência da equipe profissional e a competitividade diante de empresas concorrentes.
Se não bastasse essa dessacralização iconoclasta da meditação no Ocidente, ainda encontramos, no campo religioso, iniciativas cristãs de combate a ela e também a outras práticas espiritualistas advindas do Oriente, reconhecendo nelas um "fator demoníaco", ou seja, "um poder sobre-humano que se encontra num relacionamento pervertido com Deus" e que tem "a aparência do bem, mas mesmo assim se apega firmemente ao mal" (FREYTAG, 1992) ou cujas consequências seriam o "egoísmo", conforme afirma MAHARAJ, um ex-hinduísta convertido ao cristianismo:

As religiões orientais ensinam, como já foi dito, que somos divinos. Mas enfatizam também que a maioria das pessoas ainda não se "conscientizou" disso, mas necessita justamente descobrir o mistério de seu ser divino. Para isto devemos nos voltar para dentro de nós e contemplar nosso eu. (...) Isto, porém, contribui para um crescente egoísmo em nosso mundo. Esta é uma das razões pelas quais me dá o que pensar o fato de tanta gente se voltar para o Oriente. Eu mesmo pude ver, em minha pátria, o que esta filosofia causou nos países orientais. (...) Há milênios as pessoas de minha terra natal tem praticado a meditação e a ioga. Tratam-se de práticas que pertencem às doutrinas centrais do hinduísmo. (...) Durante milhares de anos os hindus não se preocuparam com questões sociais e com solidariedade, pois no hinduísmo o que realmente conta é que a pessoa encontre o seu verdadeiro eu, o atmã, e isto significa Deus, nas profundezas do próprio ser. (1992, p. 34-5)

Por sua vez Peter UNRUH (1992), vai analisar os tratamentos holísticos (terapias florais, acupuntura, homeopatia e, também, a meditação) como sendo os métodos adotados pelos "falsos cristos e falsos profetas", ou seja, os que "farão grandes sinais e milagres para enganar, se possível, os próprios eleitos". E, particularmente, no que se refere à meditação e outras técnicas de relaxamento, este pensador cristão afirma:

Esta prática está sendo introduzida nas escolas e até em fábricas. Os participantes são conduzidos numa viagem de fantasias ou visualização, onde estabelecem contato com "grandes almas ou personagens de ajuda" (demônios); ensina-se a eles que suas células estão sendo revitalizadas com a energia cósmica (energia dos demônios), que eles são potencialmente divinos e perfeitos (doutrina da divindade do homem, defendida pela Nova Era)... (...) A Bíblia nos ensina que devemos ser sóbrios e vigilantes, analisar tudo, provar os espíritos. No estado alfa esta possibilidade de análise é eliminada, e a pessoa assimila, sem resistência, a doutrina de espíritos enganadores. (1992, p. 87-8)

Essa pregação cristã contra o yoga, a meditação e outras práticas espiritualistas orientais é mais enfática, no Brasil, no seio do movimento evangélico. De forma geral, o catolicismo tende a ser, hoje em dia, mais tolerante e aberto à alteridade. Porém, encontramos no livro Nova era: um desafio para os cristãos um discurso heroico de enfrentamento, enfatizando a necessidade de se recuperar o cristianismo como a "via" ou o "caminho", contrapondo-se, dessa maneira, ao movimento "Nova Era".
É importante salientar que há uma grande diferença entre a vivência do hinduísmo ou de outras psicosofias orientais autênticas, como o budismo e o taoismo, e o movimento denominado "Nova Era", objeto de crítica dos autores cristãos citados acima, e associado, frequentemente, à cultura "pós-moderna" vivida nas grandes cidades. Também Luciano ZAJDSZNAYDER (1992) em seu livro Travessia do pós-moderno: nos tempos do vale tudo, no item em que busca compreender a espiritualidade na "pós-modernidade" afirma que ela encontrou o seu momento final no pós-moderno. Enquanto o moderno criticava a transcendência, oferecendo a ciência, a história e a tecnologia ao invés da espiritualidade, o pós-moderno se caracterizaria por uma "experiência não-espiritual inerte" e que se caracteriza "pela oferta quase sempre comercial de serviços e cursos" que ZAJDSZNAYDER identificará como "pseudo-espiritualidade" e como"anti-espiritualidade". O primeiro seria um movimento voltado para a "aquisição de poder". Este, podemos afirmar, revaloriza o pensamento solipsista que afirma existir apenas a consciência, sendo, todo o mundo exterior, uma simples ou mera projeção mental. Assim, dentro dessa perspectiva, o ser humano poderia ter e ser o que quisesse, bastando, para isso, apenas pensar ou desejar, uma vez que todo o mundo exterior não passaria de um reflexo de si mesmo.
Por outro lado, o segundo movimento, o que ele chama de "anti-espiritualidade", é o que estaria relacionado, sobretudo, com as diferentes formas de mercantilização do espiritual e do sagrado, movimentando o diversificado mercado "Nova era", feito por milhares de terapias psicossociais, amuletos, formulas mágicas etc.
Mas é importante, porém, assinalar que as psicosofias orientais, apesar da diversidade de interpretações e vivências do sagrado, apontam para uma forma de aceitação ativa da vida e de suas vicissitudes (que seriam fruto do carma) diferentemente, portanto, da ideologia capitalística presente na "Nova Era".
Assim, desvinculando-as do hinduísmo e de outras psicosofias do Oriente, ou seja, dessacralizando-as, esse viés profano e secular, atestando evidências de benefícios físicos, emocionais e mentais para o praticante e para empresas ajuda, obviamente, na popularização positiva das mesmas. Porém, demonstram que a meditação e outras práticas espiritualistas do Oriente também foram absorvidas pelo pensamento racionalista e iconoclástico da modernidade, desvalorizando significativamente as atividades noéticas e espirituais próprias da imaginação simbólica e que possuem nas visualizações propostas nas práticas meditativas, uma dimensão educativa importante. É nossa intenção, com essa pesquisa, revalorizar o valor animagógico das imagens simbólicas e o illud tempus (tempo sagrado atemporal) no processo meditativo.
Como salientamos, estamos utilizando a referência da Animagogia que faz uma distinção entre a dimensão psíquica, a noética e a espiritual. Este procedimento metodológico é necessário para se compreender alguns fenômenos que ocorrem na prática da Meditação Integrativa. E vamos buscar orientar essa discussão hermenêutica estabelecendo um diálogo com autores associados ao famoso Círculo de Eranos, entre eles, C. G. JUNG, Mircea ELIADE e H. CORBIN.
A dimensão psíquica (Psicosfera) é considerada na Animagogia como sendo aquela que funciona à luz das percepções imediatas e do encadeamento racional das ideias, mas, também, incluindo o inconsciente pessoal freudiano, no qual se encontram os desejos recalcados, e as experiências paranormais (telepatia, mediunidade, clarividência etc.). Trata-se do campo de ação do ego. Este possui, na perspectiva da animagogia, cinco atributos: a capacidade de perceber as formas materiais em 3 dimensões, a criação das sensações provenientes do mundo exterior, a criação das emoções a partir das percepções e sensações, a criação de formações mentais e, por fim, a memória. Porém, também associa-se ao ego às percepções extrassensoriais, obtidas com uma leve redução das ondas cerebrais, o que foi chamado de "captação psíquica". 
Para além dessa dimensão, encontraremos o inconsciente ou o transconsciente que remete à boa saúde psíquica, estudada por JUNG e denominada "inconsciente coletivo". Este possui uma função criativa e salutar, não se constituindo em um "local" onde se sublima um recalcamento neurótico. Nesse sentido, as imagens que são produzidas nele ganham um novo status: não são os sintomas que remetem a um traumatismo afetivo, mas, ao contrário, são agentes terapêuticos quando essas imagens emergem para o consciente (ego). Dentro dessa perspectiva, a Animagogia denomina esse campo do inconsciente coletivo como sendo a dimensão noética (Noosfera), distinguindo-a, portanto, da dimensão psíquica, formada pelo consciente e pelo inconsciente pessoal, ou, em linguagem junguiana, pela "persona" e pela "sombra". A Noosfera é o campo de ação do Self.
Apesar de não vinculá-la ao espiritual propriamente dito, há a probabilidade da dimensão noética ser um nível, de fato, transcendental. Mas o que vamos compreender realmente como espiritual seria uma dimensão "superior" a ela, sem imagens ou pensamentos: o reino do "amor universal" e da "felicidade incondicional". Ou seja, o "reino de Deus" para os cristãos ou o "nirvana" dos budistas, também chamado de "samadhi" pelos hinduístas. Nesta dimensão, não há imagens, pensamentos ou emoções, apenas a vivência pura de um sentimento de gratidão, de bem-aventurança e de pertencimento ao divino, narram quem atingiu este estado de alma através de alguma técnica espiritualista.
No que se refere às imagens noéticas, os frutos do inconsciente coletivo e que não se relacionam com sintomas de traumas afetivos (o inconsciente freudiano), elas podem emergir para a consciência de várias maneiras, inclusive, através da meditação, e podem ser encontradas na história humana, desde o alvorecer do Homo religiosus. E, entre os que se dedicaram ao estudo dessas manifestações hierofânicas, destacam-se, entre outros, Mircea ELIADE e Henry CORBIN.
O primeiro, ao estudar o illud tempus, ou seja, o tempo sagrado atemporal que substitui o tempo profano cronológico, nos permite compreender melhor um fato recorrente na prática meditativa e percebida por várias pessoas: a sensação de que o tempo não passou. Muitos meditadores relatam uma sensação de plenitude, como se o tempo cronológico não existisse. A sensação, segundo afirmam, é a de um eterno presente.
Por sua vez, CORBIN nos coloca diante do "imaginal", a nobreza da imaginação criadora que permite a algumas pessoas atingir um "universo espiritual", ou uma realidade divina. O fruto dessa imaginatio vera foi chamado de "narrativas visionárias" por Emmanuel KANT em seu estudo das visões espirituais do místico protestante Emmanuel Swedenborg, mas  com um sentido negativo ou pejorativo.
Em nossa hipótese, baseada em evidências obtidas em 12 anos da prática da Meditação Integrativa com diferentes grupos, especificamente com idosos médiuns, em programas educativos como a Gerontagogia Holonômica, conseguir acessar o imaginal favorece, internamente, o equilíbrio psíquico e, externamente, o desabrochar de uma "cultura de paz", pois a pessoa se torna mais tolerante e compreensível com o Outro, ou seja, com o que pensa e age de forma diferente, e também consigo mesmo, aceitando e compreendendo os próprios defeitos e a finitude humana.
A "cultura de paz", portanto, é distinta da "cultura da guerra" que, em qualquer escala, não deixa de ser uma "cruzada heroica" e obsessiva, consciente ou inconscientemente, para construir uma identidade exclusivista cujo objetivo é desvalorizar, quando não eliminar (exterminar) o diferente, não aceitando a existência de um mundo plural, como encontramos no racionalismo cientificista Ocidental e na lógica religiosa de alguns grupos cristãos. A "cultura da guerra" é fruto de um imaginário heroico polarizado.
A meditação, qualquer que seja sua linha de trabalho, mas, particularmente, a Meditação Integrativa, tem como objetivo valorizar as imagens noturnas, sobretudo, as dramáticas, ou seja, religando os dois polos (heroico e místico) com a intenção de favorecer a "cultura de paz" e de "não-violência". E um dos processos educativos que permitem essa mudança de sensibilidade é, justamente, a possibilidade de experimentar "consciencialmente" um outro espaço e um outro tempo. Este fenômeno, muitas vezes, permite escapar de um processo de enantiodromia, no sentido junguiano, e, ao invés de um conflito psíquico, atormentado pela sombra que se tenta negar ou combater, vivencia-se, de forma alógica, um processo de gulliverização do ego (e junto com ele de suas verdades e problemas). É este "mecanismo psíquico" que facilita um processo de abertura para o Outro, ou seja, de valorização da alteridade e da diferença. Em suma, a Meditação Integrativa pode permitir a vivência da unidade na diversidade ou de ser total em um universo que se caracteriza pela fragmentação.
Rompendo ou transcendendo a lógica clássica e a identidade exclusivista, desvanece a desconfiança ou qualquer hostilidade violenta contra quem pensa de forma diferente. Daí o valor das diferentes práticas de meditação como instrumento para a "cultura de paz", e, no caso da Meditação Integrativa, cujas induções possuem um caráter animagógico, valorizar a conivência dos contrários, do paradoxal, e facilitar o perdão, que, segundo Gandhi, seria a "arma dos fortes".
A flexibilidade mental e o relacionamento com os elementos contraditórios faz com que a prática da Meditação Integrativa valorize o chamado pensamento "dilemático", "oximorônico" ou "anfibológico", ou seja, que compartilham com o seu oposto uma qualidade comum. Em outras palavras, as induções que guiam as Meditações Integrativas valorizam o que LAO-TSÉ, no livro Tao Te Ching, identifica como sendo o não-desejo, uma das quatro virtudes apresentadas neste clássico do taoísmo. Para LAO-TSÉ, é o "ego" que deseja e vive atormentado. E quando se obtém o fruto do desejo, não há satisfação, mas a necessidade de satisfazer um outro desejo. É para se escapar desse sofrimento constante que o caminho (Tao) é apresentado como a atuação de acordo com a vontade do Tao e não a nossa.
O único desejo que restaria é o de cooperar com esta "vontade" maior. E isso se faz quando se reconhece que o mundo é guiado pelo Tao e que, cada criança, jovem, adulto ou velho segue para frente sob o impulso dessa "vontade". Para LAO-TSÉ, o discípulo que reconhece esse princípio procura apenas viver no e para a realização do plano do Tao sem hesitação e em paz, "sendo a mudança que deseja ver no mundo", nas palavras, por exemplo, de Gandhi.
Como salientamos, as diferentes Meditações Integrativas são parte integrante da TVI. Além delas, temos as práticas bioenergéticas de imposição das mãos e as de Chi Kung. As Meditações Integrativas utilizam induções animagógicas e técnicas de relaxamento e também o uso de visualizações de cores, de imagens curativas etc. Desde 2003, vem sendo realizada, com resultados empíricos positivos, em diferentes grupos sociais: portadores de necessidades especiais, soropositivos, pessoas que se tratam com quimioterapia, professores, jovens que estão superando a crise de abstinência causada pelo vício das drogas, policiais e profissionais da saúde estressados, educadores vitimados pela síndrome de burnout e, também com o nosso sujeito de pesquisa, idosos que são médiuns.
Independentemente do grupo que participa dessa atividade em projetos de anima-ação cultural, todos são unanimes em afirmar que se sentem mais harmonizados e se aceitam melhor, sentindo-se também mais próximos de seus familiares ou mesmo de colegas de trabalho com quem costumam ter conflitos. Alguns afirmam que passaram a dar mais atenção às questões espirituais e, através dos relaxamentos, das induções animagógicas e das imagens hipnagógicas terapêuticas, afirmam que alguma enfermidade física foi curada, como dores, tensões, e até glaucoma uma senhora relatou ter curado com a prática da Meditação Integrativa. Porém, é mais comum a afirmação de que uma dor emocional ou pensamentos obsessivos foram dissolvidos com a prática, além do conforto espiritual que a prática propicia.
As Meditações Integrativas podem ser facilmente reproduzida por profissionais da área da saúde, da educação popular e de outros setores, como animadores culturais e líderes comunitários, ainda mais após a edição do CD Meditações Integrativas, em 2015.
Com profissionais da saúde e da educação, muitos afirmam que ao praticar as Meditações Integrativas sentem que diminui o estresse, a ansiedade e também os sintomas da síndrome de burnout, que afasta muitos do emprego.
Há também aqueles que afirmam ter mais controle da mente e mais criatividade na hora de resolver problemas ou que se sentem mais otimistas e alegres diante da vida.
E, no caso dos idosos médiuns, mais sensíveis às energias espirituais, afirmam que a prática favorece o controle emocional e aumenta o poder da intuição, assim como a criatividade e capacidade para enfrentar as crises e as vicissitudes existenciais.
Todas as meditações começam com um relaxamento induzido e a pessoa pode fazer deitada em um colchonete ou sentada. Não é aconselhado fazer a prática em pé. O participante é convidado para fazer uma longa respiração e imaginar uma luz azul clara e brilhante se formando no topo da sua cabeça. Gradativamente, ela é convidada para imaginar a luz se espalhando e envolvendo todo o seu corpo, da cabeça aos pés. Em seguida, o participante é estimulado a relaxar todo o seu corpo, imaginando, primeiramente, a luz nos pés. Comandos para que sinta os pés ficando relaxados, sem tensões e sem dores são dados, lentamente e com a voz pausada e calma. Em seguida, o mesmo comando é dado para as pernas (incluindo os joelhos), órgãos internos (como estômago, fígado, intestino...), coração, pulmões, coluna, musculatura das costas, ombros, pescoço, braços e cabeça. Comandos para relaxar o cérebro e as ondas mentais também costumam ser dados. A mentalização/imaginação da cor azul é extremamente relaxante e anestésica. O único risco é o a pessoa dormir e não acompanhar o resto da indução. Porém, temos notado que o inconsciente acompanha a indução e a prática funciona mesmo com as pessoas que dormem.
O relaxamento é acompanhado, em seguida, de uma Meditação Integrativa. Ou seja, o relaxamento é uma atividade propedêutica para as meditações que duram, em média, 15 minutos.
No CD Meditações Integrativas, a mais popular é a destinada para se fazer uma "limpeza energética" no ambiente doméstico e de trabalho, utilizando a mentalização de cores. De forma geral, após o relaxamento, a pessoa será induzida a imaginar energias coloridas, incluindo a cor lilás, sempre em tonalidades claras e brilhantes, saindo das mãos de Jesus, Maria (ou de outros "seres de Luz" que o grupo venera e respeita). Em seguida, a pessoa será induzida a se dirigir mentalmente até a residência ou ao ambiente de trabalho, sempre na companhia desse "ser de Luz" e fazer as limpezas energéticas necessárias. Mentalmente, cada participante deverá passear por todos os cômodos de sua casa, permitindo que este "ser de Luz" limpe toda a energia negativa presente no ambiente. Alguns lugares, como embaixo de escadas, quartos onde dormem pessoas que consomem drogas e até mesmo banheiros costumam ser descritos como locais onde encontram "dificuldades para entrar". Mas é preciso insistir até conseguir. Uma variação da técnica, que costuma ser muito interessante, é o grupo, quando reúne pessoas conhecidas, ir à casa de apenas um dos participantes. A vibração é muito mais intensa e ganha em qualidade.
Outra meditação muito popular é a que trata mágoas, luto e ressentimentos. Esta meditação se encontra também no CD. Trata-se da faixa 4, do CD 1. Ela trabalha através da mentalização da cor rosa, cuja simbologia é associado ao amor universal. Após envolver todo o corpo, cada célula e, sobretudo, o coração, o participante é induzido a usar mentalmente essa vibração para limpar toda energia negativa acumulada nela devido, sobretudo, aos sentimentos de mágoa. A indução consiste em imaginar entre as mãos pessoas que fizeram ou falaram algo que a ofendeu e, do fundo do coração, deverá perdoar a(s) pessoa(s). Deverá fazer o mesmo com aqueles que ela acredita que ofendeu e, em seguida, deve se perdoar, aceitando-se como é.
Com grupos humanos que manifestam interesse pela natureza, uma variação é a chamada Meditação dos 4 elementos. A técnica consiste em utilizar a visualização criativa dos quatro elementos - terra (montanha), água (cachoeira ou chuva), ar (vento) e fogo (chama de uma vela), para a realização de um exercício bioenergético que atua, respectivamente, no corpo físico, sobre as emoções, na mente e no Espírito. Através da visualização e das induções animagógicas, o participante costuma sentir resultados benéficos em si e na interação com o grupo. Esta meditação não deixa de ser um "exercício xamânico" sem o uso de elementos psicoativos. Apenas o poder da imaginação criativa é usado para se atingir estados ampliados de consciência e a transmutação energética capaz de realizar inúmeras curas psicossomáticas.
Essa meditação costumo utilizar nas vivências e cursos onde abordo o poder curativo das imagens hipnagógicas, onde há pessoas de várias religiões e também ateus, pois só utiliza a mentalização de elementos da natureza. O trabalho começa com a pessoa se imaginando em uma paisagem serena subindo uma montanha. Ela procura sentir a relva e o aroma do lugar. E, no topo da montanha, ela deve ser induzida a sentir a energia da Terra entrando pelas plantas dos pés e envolvendo todo o seu ser, renovando suas energias e a fortalecendo fisicamente. Em seguida, imaginará um banho de cachoeira ou uma chuva suave caindo sobre a sua cabeça. E a água que desce do céu pura e cristalina entra por todos os seus poros e envolve todas as células de seu corpo físico e purificando também as energias emocionais negativas. Toda vibração negativa é transmutada por essa água benfazeja. A terceira etapa consiste em sentir o ar agradável de uma brisa, soprando sobre o corpo. Esse ar desmancha todas as formas-pensamento negativas e "sujeiras" mentais acumuladas no cotidiano. Por fim, a pessoa imaginará dentro de si, na altura do coração uma chama simbolizando a sua essência. Esta chama se expande infinitamente irradiando luz para todos os lados, permitindo uma agradável sensação de paz e felicidade indelével, e um amor indizível por toda a criação. Um exemplo de como conduzir essa meditação se encontra no CD 1, na sua faixa três. Este CD apresenta outras induções, valorizando o poder intuitivo do praticante e até para quem deseja fazer, com segurança, "vibrações para o planeta".

Com esse capítulo encerramos a primeira parte dessa pesquisa e vamos, a partir da seguinte, abordar como a mediunidade tem sido pouco compreendida na educação escolar, excluindo ou estigmatizando alunos que manifestam esse potencial psíquico e, finalmente, como a Meditação Integrativa vem auxiliando na diminuição de "perturbações psíquicas" em idosos que afirmam serem médiuns.

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